quarta-feira, 20 de junho de 2012

Resenha: Quando me amei de verdade...


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McMillen, Kim
Quando me amei de verdade/ Kim McMillen & Alison McMillen Rio de Janeiro, Sextante, 2003.
Tradução de: When I loved myself enough
87 pag.

     Este é um pequenino livro. Perfeito para caber na bolsa. Ele me lembrou bastante o Minutos de Sabedoria de C. Torres Pastorino, editado pela Editora Vozes. Fiz esta associação tanto pelo tamanho diminuto (embora o Minutos seja ainda menor), quanto pelas pílulas de sabedoria que eles tentam passar.
        Quando me amei de verdade é, essencialmente, um livro sobre o amor. Mas este amor, está muito mais evidente na proposta do livro no que em seu conteúdo em si.
        Os pensamentos expostos nas páginas retratam as percepções de Kim McMillen, que morreu poucos meses antes da publicação deste livro. Mas poderíamos alimentar a seguinte dúvida: Kim morreu poucos meses antes da publicação ou a publicação ocorreu poucos meses após sua morte? 
         A mensagem de amor que o livro nos dá, não se encerra nos pensamentos da autora, mas na ação de reunir tais pensamentos que estavam muitas vezes dispersos, escritos nas cadernetas de compras de uma mulher de 52 anos de idade. Alison McMillen, a responsável por esta ação de reunir os escritos de sua mãe, fez isso como uma forma de homenageá-la por sua forma simples e otimista de encarar a vida e, principalmente, de reconhecer a necessidade de amor próprio.
         É um livro sobre otimismo. Nenhum pensamento exposto aqui é essencialmente, complexo. Nada é profundamente filosófico mas, se pudermos parar um pouco para verificar as pequenas verdades nos 78 pensamentos de Kim, talvez possamos reconhecer o que há de universal em todos nós, independente de se ter 14 anos de idade ou ser uma mulher divorciada, de meia idade e de vida aparentemente comum. 



O Bardo cantará três canções sobre este livro. Canções sobre se amar de verdade.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Autor: Carl Sagan


     Carl Edward Sagan (09/11/1934 - 20/12/1996) foi um astrônomo estadunidense. Também foi um astrofísico, cosmologista, divulgador da Ciência. Foi um dos mais populares cientistas do Século XX. Publicou mais de 600 artigos científicos. Foi co-autor ou editor de mais de 20 livros. Defensor do ceticismo e do método científico. pioneiro na exobiologia, foi também um importante incentivador da busca de vida extraterrestre.
         Muitas das contribuições científicas de Sagan foram fundamentais para a determinação da temperatura da superfície de Vênus. Nos anos 60 ninguém conhecia muito bem as condições da atmosfera daquele planeta. Sagan listou várias possibilidades que foram publicadas no livro Planets. Ele lançou um cenário seco e quente, em contraponto ao aspecto paradisíaco que muitos acreditavam. Ele investigou as emissões de rádio do planeta e estimou a temperatura da superfície em 500° C. Como cientista visitante do Laboratório de Jato Propulsão (JPL), ele contribuiu com a primeira missão Mariner para Vênus. Trabalhando no projeto e gerenciamento do projeto. A Mariner 2 confirmou suas projeções a respeito das características da superfície de Vênus, em 1962.
         Sagan foi o primeiro que sugeriu que a lua Titã poderia ter um oceano de compostos líquidos em sua superfície e que a lua Europa pudesse ter água abaixo de sua superfície. Isto daria a Europa um potencial para colonização. O oceano subterrâneo de Europa foi parcialmente confirmado pela sonda Galileo. os mistérios de Titã também foram resolvidos com a ajuda de Sagan. 
           Podemos apontar também as contribuições para o entendimento das estações de Marte. 
      Sagan foi um dos maiores defensores da busca por vida extraterrestre. Tendo conduzido várias pesquisas para comprovar a possibilidade de fabricação de aminoácidos à partir de radiação em moléculas orgânicas.
         Carl Sagan tinha muita habilidade em convencer as pessoas a ter um melhor entendimento do Cosmos. Ressaltando a pequenez da Terra e do próprio homem frente a imensidão do Universo.
        Ele produziu, a partir de 1977, uma série de TV - Cosmos: uma jornada pessoal.Cosmos abordava desde a teoria científica da Origem da Vida até a perspectiva filosófica sobre nosso lugar no Universo. Em 1980 a série Cosmos ganhou o Emmy. Tem sido desde então exibida em mais de 60 países e já foi vista por mais de 500 milhões de pessoas.
         Sagan morreu de pneumonia, em decorrência de complicações de seu quadro de câncer. Ele tinha 62 anos de idade.

Principais Publicações


     

O Bardo sempre tem boas canções sobre Carl Sagan.

Resenha: Ilha das Flores



Ilha das Flores -1989
Direção: Jorge Furtado.
Roteiro: Jorge Furtado.
Categoria: Documentário

     Este documentário mostra o cotidiano de habitantes da Ilha das Flores: um lixão na cidade de Porto Alegre - RS.
      Vencedor de nove prêmios no Festival de Gramado (1989), ganhador do Urso de Prata do festival de Berlim (1991). O filme usa linguagem onde denotamos extrema ação, conceituação e abordagem cheia de referências cíclicas, mostrando a forma subumana que habitantes do lixão se encontravam.
     Quando em exibição livre, alguns expectadores sentem-se incomodados com o estilo da técnica narrativa e acabam por atribuir um caráter infantil a forma de comunicação deste curta. Não fosse uma tônica bem humorada que pontua e faz contraponto entre imagens e o texto narrativo em si, a aceitabilidade desta obra estaria comprometida. O que beneficia "Ilha das Flores" e o torna atrativo a vários públicos é a sua curta duração, trazendo o expectador rapidamente para o núcleo polêmico da discussão filosófico-social da humanidade. Ainda assim, o filme é cheio de lacunas, que deverão ser preenchidas com as devidas associações ontológicas, além da busca por solução para a problematização da conceituação de "Liberdade".
     Bem no início, o filme delimita o universo em que a narrativa transcorre. Quando a frase "Deus não existe." surge, temos certeza de uma abordagem crítica à religiosidade. Diria que não só existe uma margem aos questionamentos às Teogonias, mas uma ênfase aos aspectos políticos, econômicos e sociais que envolvem as personagens. isto se torna marcante quando, no decorrer da película, a exposição objetiva nos guia para a ciência das injustiças humanas geradas pela influência das várias esferas de atuação dos homens.
     Numa conferência em 11 de maio de 1996, Carls Sagan falou dos seus pensamentos sobre a histórica fotografia do Planeta Terra, obtida a partir da Voyager I, quando a sonda estava a 6,4 bilhões de quilômetros de distância: "Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portarmos mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido." [1]. Sagan tem a opinião de que a pequenez do homem não é suficiente para aplacar sua arrogância que acaba gerando situação de autodestruição da humanidade. E não haverá intervenção externa que possa nos salvar. Os homens é que precisam aceitar a condição de mantenedores da própria humanidade. 
     Com a determinação que circunscreve a ação, teremos a disposição a interpretação geográfica, moral, ética, econômica, política e até religiosa. Quando o filme nos mostra o lugar onde ocorre a história, temos linguagem moderna, dado seu aspecto científico: as coordenadas geográficas.Isto nos oferece noções de exatidão e precisão. Descrevendo os personagens envolvidos com pouca personalização, sempre apontando caráter humano mais generalistas. 
O que percebemos é o uso bastante recorrente da corporeidade, que se apoia na ideia física do existir, através da manifestação biológica dos seres. Tal recurso cartesiano imprime ao curta um aspecto mais formal. Uma vez revestido com esta defesa de modelo conceitual, ao final oferece-se como instrumento objetivo para futuras discussões em seu conteúdo e não em sua forma.
Obviamente o filme não se constitui essencialmente "universal" em seu conteúdo narrativo. Fato este que é compensado com a extrema ação de conceituar os elementos expostos. Isto possibilita tornar maior, o horizonte de audiência potencial, passível de ser afetado com a proposta do diretor. 
O que permeia "Ilha das Flores" é o tom irônico da ideia da superioridade humana. Isto fica muito evidente quando o texto insiste em nos informar que os aspectos principais que tornam os humanos distintos dos outros seres são as presenças do "telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor". Estes aspectos de diferenciação entre humanos e demais animais se encaixam na categoria Corporeidade e as derivações que se seguem, tangenciam as categorias de Alteridade, Transcendência e Subjetividade. 
Após a apresentação do cenário complexo e humanos simplificados, o expectador passa a receber explicações sobre os elementos que brotam com extrema velocidade. É importante ressaltar aqui que a estrutura do filme sugere que este expectador não seja humano. Um extraterrestre, talvez.
        A constante conceituação presente em todo o tempo nos ajuda a perceber o campo semântico empregado por Jorge Furtado, útil para as definições de "dinheiro" e "propriedade-dono".     
        A "bondade" que o dono dos porcos tem em permitir que cada grupo de humanos permaneça, por 300 segundos, dentro de seu terreno, para escolha de material de origem orgânica, surge porque seus porcos já tiveram vez naquela tarefa.
         A obtenção de bens está ligada a troca de valores, mais exatamente, dinheiro. Tal prática se tornou acessível com a liberação do lucro na Idade Moderna. Se o problema das mulheres e crianças da Ilha das Flores fosse somente a falta de dinheiro, isto as colocaria em pé de igualdade com os porcos, visto que eles também não possuem este bem. Lembremos, no entanto, que é a "falta de dono" que faz a diferença neste e em muitos outros casos.
          O "dono dos porcos" é o cuidador dos porcos. Ele provê abrigo e alimentos selecionados. Assim, os humanos, que não possuem dono, na verdade não possuem cuidador. É a ligação com a frase inicial: Deus não existe. Desta forma, sem alguém para prover abrigo e alimentos para os humanos da Ilha das Flores, estes se situam depois dos porcos, na hierarquia de prioridade de escolha de alimentos.Acabamos então por aceitar que, a diferenciação biológica que os humanos possuem não é capaz de lhes dar supremacia sobre os porcos do lixão.
       Quando o conflito está exposto, a linguagem do filme migra para aspectos mais subjetivos. A Liberdade aparece como um novo fator de diferenciação entre homens e demais seres.
Entendo por liberdade, a capacidade que os humanos tem de se descondicionar, em contracorrente aos instintos ou ao peso do modelo social. mas como esta liberdade individual permeia cada componente da humanidade, isto a invalida como diferencial interno. As tensões sociais surgem apoiadas na disputa pela Liberdade, sim. Mas tal alcance é expandido ou retraído conforme os elementos de suporte para cada pessoa. Tais elementos são manifestações de Poder.
 Ao final, o filme assume um caráter poético complementando o clima clássico e heróico do tema que ouvimos ainda na abertura: trecho da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. Reafirmado no pensamento de Cecília Meireles, que é trecho do texto Romanceiro da Inconfidência: "Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!"




O bardo cantará cinco canções sobre este vídeo.

            
           

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Resenha: Dicionário Filosófico - Voltaire



Dicionário Filosófico, Voltaire
Título Original: Dictionnarie Philosophique.  Copyright desta Tradução: Editora Martin Claret, 2006.

Sinopse

     Voltaire, um dos filósofos mais influentes de seu tempo, escreveu abundantemente: a primeira edição de suas obras completas tem setenta volumes. Entre elas, algumas obras-primas. 
     Com o célebre Dicionário Filosófico (1764), Voltaire se aproxima dos enciclopedistas, salvo no tocante as teorias estéticas, em que sempre se manteve classicista. Esta obra foi traduzida para quase todas as línguas.
     Voltaire detestava a Igreja Católica e todas as formas de intolerância, mas não era ateu. Defendeu a burguesia contra a aristocracia feudal e antecipou a Revolução Francesa.


      Este é um dicionário concebido e escrito de forma não linear. Os verbetes expandem-se e muitas vezes já assumem o caráter idéia completa a ser desenvolvida pelo filósofo. Como exemplo, posso citar o conceito de Espírito, que é dividido em seis seções. 
      Diferentemente de um dicionário comum, neste trabalho, Voltaire valida todo um sistema de pensar. As definições que existem no livro, se complementam e oferecem ao leitor um retrato do pensamento iluminista.
      Eu, particularmente, gosto da maneira como as ideias são apresentadas. A forma de escrita é leve e, se eventualmente, algum termo isolado não ficar suficientemente "definido", o complemento da leitura poderá oferecer a visão do sistema filosófico geral, facilitando as interpretações.
      Mais do que um estudo semântico, o Dicionário Filosófico é uma fonte de desconstrução da superstição e religiosidade dogmática. Cheio de um humor tido como agressivo, pelos mais devotos, este livro funciona para leitores não apaixonados pelos ditames católicos.
      Voltaire rebaixa muitos textos bíblicos à condição de meras fábulas de pastores hebreus. E resume seu pensamento religioso quando expõe os conceitos de Catecismos chinês, japonês e "do pároco". 
      É um excelente livro para se apreender o cerne do Iluminismo. É o início à critica ao pensamento Religioso Medieval.

         
O Bardo cantará cinco canções para este livro.    
      

sábado, 16 de junho de 2012

Resenha: A Ilha do Dia Anterior


Eco, Umberto, 1932 -
E22i
A ilha do dia anterior / Umberto Eco ; Tradução
Marco Lucchesi. - Rio de Janeiro : Record, 1995
ISBN 85-01-04231-5
Título Original: L'ISOLA DEL GIORNO PRIMA
492 páginas.

   
     Eu começo a ler pelo começo do livro e isto inclui as Notas do Autor e do Tradutor (quando é o caso). E neste edição de A Ilha do Dia Anterior, da Editora Record, é fundamental para o entendimento da obra, a captura das percepção de Marco Lucchesi a respeito do processo de tradução e adaptação do texto.  
     Umberto Eco é sempre um desafio. O próprio tradutor admite isto quando cita o intenso trabalho de pesquisa em obras que serviram de fontes para o autor. Era a pesquisa para identificar quais delas tinham versões em português dos séculos XVII e XVIII. Era um "reexame das soluções encontradas".
     Desta forma, temos que buscar uma preparação psicológica para sermos conduzidos por uma narrativa histórica construída com regionalismos e neologismos pessoais ou históricos. Detalhes ortográficos, concatenação de termos, acentuação e pontuações também oferecem um "charme" próprio. 
     O livro não oferece uma "nova" gramática portuguesa mas, se nos referenciarmos por Camões, por exemplo, teremos uma amostra de termos e regências em desuso e que geram alguma estranheza ao leitor menos acostumado aos clássicos portugueses.
      A história se passa pelo século XVII. Aqui, temos que levar em consideração todo o peso do confronto Ciência x Religião que crescia na Europa. A península Ibérica aderiu muito fortemente aos ditames da Inquisição, em contrapartida, França e Inglaterra corriam por fora, em busca da supremacia tecnológica.
      Assim, em plena expansão colonial, quem detivesse as melhores ferramentas de navegação, suplantaria as nações inimigas. E o pano de fundo da história de Roberto de la Grive é justamente esta corrida expansionista.
   Roberto é o protagonista e narrador de acontecimentos sabidamente históricos e de eventos fantasiosamente suspeitos. Ele vive a paranóia de ser perseguido por um irmão gêmeo do qual somente ele tem conhecimento da existência.
    O sentimento da presença deste  irmão gêmeo "bastardo", chamado Ferrante é sentida em quase qualquer lugar onde Roberto esteja. Desde a guerra em Casale, até os corredores do cardeal Richelieu, este seu gêmeo "maligno" atua para tentar tomar o seu lugar na sociedade.
      Quando se vê náufrago, Roberto passa a ter tempo para pensar sobre suas percepções sobre si mesmo. Durante algum tempo, ele pôde pensar nos amores e temores de sua vida. Aos poucos ele passa a reconhecer o perseguidor Ferrante como sendo parte importante dele mesmo. Mas isso será uma redenção ou maldição?
     A ilha do dia anterior, nos mostra poderosos paradigmas religiosos e científicos da Era da Expansão Mercantilista e nos prova que para vencer uma guerra, seja ela uma disputa pessoal ou contra Impérios  devemos conhecer muito mais do que as fraquezas dos inimigos, temos que reconhecer as nossas limitações.
 
   
O Bardo cantará cinco canções sobre este livro.

Resenha: Ao Cair da Noite, Stephen King




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King, Stephen
Ao Cair da Noite / Stephen King /; Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
Tradução de: Just After Sunset, 398p.  ISBN 978-85-60280-89-6


     Este é um daqueles livros que, por ser coletânea de contos, acaba oferecendo um maior campo para sondarmos o estilo do autor. E no caso de Stephen King, escritor consagrado, isto tem um gostinho especial para o leitor. 
     A estrutura do livro oferece uma excelente variação de enredos. Temos o horror clássico, através do conto N. e nuances de romantismo e nostalgia (com cores melancólicas) na estória de Willa, por exemplo. Com 398 páginas, considero um livro de fácil leitura e suficientemente dividido para entreter durante uma espera na ante-sala de consultório de dentista ou mesmo em uma ponte aérea. 
      Mas, começando do começo...
    O grande diferencial deste livro de Stephen King está dividido em dois pontos de foco: Introdução e Notas do Cair da Noite.
     Na Introdução, o autor oferece uma nova história, sobre como os contos foram reunidos nesta coletânea e como o projeto do livro em si, ganhou força junto a sua editora.
    Eu, como leitor, gosto de imaginar o que o autor valoriza, nas etapas que compõem a construção de sua obra. Desde o conceber e delinear dos personagens ao organizar da linha temporal de acontecimentos, o controle do processo é fundamental para minimizar ou mesmo evitar problemas de incoerência ou descontinuidade. 
      Nas Notas do Cair da Noite veio a grande sacada.
     No final do livro, o autor explica como veio a ideia para escrever cada um dos contos. É uma joia para quem busca compreender o dito processo criativo. Mas o que encontrei, lendo as notas, foi o cotidiano nu e cru, fornecendo estímulos em nível comum. Desta forma, há uma valorização da mente criativa do autor. 
     Para os fãs de Stephen King, este é um livro que pode desagradar. Como os temas dos contos possuem muita diversificação, será difícil agradar a todos todo o tempo. Eu, que já li vários livros do autor, encontrei dificuldades com alguns dos contos. Principalmente os que não estavam exatamente dentro da linha terror-horror, acabam tendo um ritmo mais lento que, certamente, irá desencorajar alguns leitores a manterem a mente fixa na estória. Desta forma, percebi o livro meio como uma montanha russa do meu interesse.
     Mas, em se tratando de estrutura de narração, o Sr. King continua usando spoilers para prender nossa atenção e jogando com reviravoltas mirabolantes para resolver os coflitos expostos. 
     Uma observação especial vai para o conto N. que considero até agora a estória mais "Lovecraftiana" que Stephen King contou. É extremamente nítida a associação entre o enredo de N. e de Call of Cthulhu ao ponto de causar certa decepção. Muitos podem associar como uma nova leitura do clássico de H.P. Lovecraft. Eu, contaminado pelos mitos de Cthulhu, tive ler de forma resignada para poder extrair do conto, sua essência. Se tratado de forma independente, N. é um grande (extensão e profundidade) conto.
    Ao Cair da Noite realmente funciona como entretenimento. E é ótima opção para as pessoas que preferem estórias curtas. O menor conto (Tarde de Formatura) possui 7 páginas e o maior (N.), 57 páginas.


            
O Bardo cantará  três canções sobre este livro.
     


Resenha: Faça você mesmo a sua Macumbinha


Faça você mesmo a sua Macumbinha
Orphanake, João Edson
Editora Orphanake/ Editora Pindorama/ Tríade Editorial 32ª Edição

     Este é um livro paradoxal em si mesmo. Meu primeiro contato com ele foi nos idos de 1990 . A proposta básica do autor é reviver a "magia" no tempos de nossas avós. E isso compreende muita superstição ou mesmo ciência mal interpretada. 
     O livro é cheio de referências às religiões africanas e desenvolve um sistema de práticas pouco formais e realmente já em bastante desuso. 
     Eu acredito que sua disseminação poderia ocorrer no âmbito de uma coletânea de práticas tradicionais e não exatamente como referência para terapias. 
     Vale como fonte de pesquisa e referência sobre práticas ocultistas populares. 
     Felizmente, a população está cada vez mais crente na medicina alopática. E a farmacopeica química tem entrado até mesmo no hall das profissões ditas "da moda".
     Mas se você quiser "Encontrar alguém que tenha feito o mal" ou mesmo fazer uma "Oferta à Pomba Gira das Almas", este livro é o ideal. Com seu caráter extremamente prático, valendo-se somente da subjetividade dos Orixás, é um manual de benzimentos, emplastros e chás.   

   

   O Bardo cantará uma canção sobre este livro.

O início das novas anotações


      Acho que posso dividir minha vida como leitor em três momentos. Ou melhor, em três momentos e meio.
     No princípio das Eras, eu era a típica criança leitora de quadrinhos do Mickey e Tio Patinhas. Era uma leitura simples e de certo modo divertida. Gastava meu rico dinheirinho em novas revistinhas, mas comecei a me preocupar seriamente com o fato de que elas simplesmente acabavam muito rapidamente. E uma vez morando em Maranguape, não existiam muitas opções a disposição nas bancas de revista da cidade. Num primeiro momento restava a opção de reler tudo aquilo, mas depois, sinceramente, era altamente tedioso fazer aquilo depois de decorar cada fala e a disposição dos balões em cada página.  Este foi meu primeiro momento como leitor. O que poderia chamar de "Fogo em Magnésio Metálico" - Intenso e pouco duradouro. 
     Já dentro do esquema do 1° Grau, a cada semestre pingava um livro para-didático. E tome a coleção Vaga-Lume e depois os clássicos da literatura: Senhora, O Ateneu, O Garimpeiro ou mesmo El Cid. Era a fase como leitor por obrigação. O peso de preencher a famigerada ficha de leitura. A nota bimestral. Pouco aproveitei deste período.
     Em 2001 entrei na minha atual fase de leitor. Já com 23 anos de idade, tendo tido contato com a literatura técnico-acadêmica, passei a buscar em novos livros, o espaço de entretenimento que em muitas pessoas é totalmente preenchido por jogos eletrônicos ou redes sociais. Àquele tempo, eu não tinha estes recursos de diversão e precisava da leitura por conta do fácil acesso e companhia em minhas intermináveis viagens de ônibus entre Maranguape e Fortaleza. 
     Foi a oportunidade para colocar a mina mente científica para relaxar um pouco. Obviamente não aboli meu senso de criticidade ou mesmo de ceticismo, mas tanto tempo afastado da música e da fotografia estava me deixando um pouco mais frio e distante em relação ao meu padrão de sociabilidade. 
     A retomada aconteceu quando entrei na "vibe" do Stephen King. Devorava os livros em poucos dias, mas acabava buscando sempre novos alimentos da mesma fonte. Foi verdadeiramente uma saturação. 
      Cansei! Parei!    
    Quando dividi em três momentos e meio para falar sobre minha relação com a leitura foi justamente porque após a "stephenkingzação" dos meus conceitos literários houve uma gradual mas, contínua, libertação e equalização de meus interesses.
    Hoje não possuo nenhuma Biblioteca nível 4, mas tenho adquirido sempre novas aquisições para preencher meu tempo já bastante preenchido e fico muito satisfeito em poder visualizar os livros de uma forma muito mais vertical do que no início de minha carreira como leitor.
     Aqui, neste blog reativado, farei algumas anotações sobre o que percebo sobre principalmente livros. Neste primeiro momento não tenho um gênero literário específico para tratar. Aqui poderemos encontrar a resenha de um livro técnico ou a análise de um a personagem de José de Alencar.
      Estas são as primeiras anotações do Bardo. Rascunho de canções que espero cantar por muitas luas.