terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os anéis da Terra

Alguém com recursos de animação "materializou" um dos meus antigos pensamentos astronômicos. E se a Terra tivesse anéis como os de Saturno?
Saturno é o mais belo planeta de nosso Sistema Solar, pelo menos assim, de longe! E o diferencial são os anéis que encantam os observadores desde Galileu. Mesmo usando modestos telescópios já conseguimos vislumbrar algo "estranho".
Caso a Terra tivesse anéis a visão a partir da minha cidade (Maranguape) não seria tão fantástica assim. Uma vez que eles estariam orbitando alinhados com o Equador, veríamos uma linha estreitinha cruzando o céu de Leste a Oeste.
O video mostra a concepção artística de tais anéis a partir de várias cidades, em vários Continentes.
Segue o link para quem desejar conferir:
http://www.youtube.com/watch?v=UT2sQ7KIQ-E

Crédito: Roy Prol/Youtube.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Manhã do Vestibular

Eu, desde o início, tinha dito a quem quisesse ouvir: - Não estou preocupado com as provas do vestibular! Isto porque pensava estar tentando o concurso de forma despretenciosa, talvez displicente. Fui para a primeira fase traquilo. Recebi o resultado, também tranquilo. Aguardei pacientemente a segunda fase. Ontem (dia 13) fui para a prova no centro de Humanidades da UECE. Cheguei ao local faltando ainda uma hora. Fiquei perambulando por lá, super tranquilo.
Hoje foi a prova de Português e História. Sai de casa despreocupado, mesmo sabendo que iria enfrentar específicas tão "humanas" pela primeira vez. Aliás, é interessante esta história de "humanas". Mas tudo bem, deixemos isso pra depois.
Na rodoviária em Maranguape não notei o movimento dos dias anteriores de prova. Isto porque provavelmente todos já tinham ido. Era um pouco tarde já, mais de 07:00h. Para uma prova que ia começar as 09:00h, no CH da UECE, eu estava com folga no tempo.
No interior do ônibus, depois que saímos, comecei a perceber que o motorista devia estar em um dia muito tranquilo. O tempo que ele levou para percorrer o espaço entre a Rodoviária e a Praça da Prefeitura foi hediondo. Neste momento iniciei meus pensamentos elevados em busca de paz extra. Não que eu precisasse de paz para a prova, não. Eu precisava tentar me manter afastado dos assuntos que se iniciavam no banco a minha frente (vestibular) e da percepção da baixíssima velocidade com que o ônibus contornou a curva da Outra Banda.
Acho que um dos fatores que contribuíam para aquela sensação de desconforto que eu estava experimentando era a inexistência de relógio acessível para que pudesse acompanhar o avançar da hora e poder me programar mentalmente para um esquema de locomoção entre a Reitoria e o CH.
Curiosamente o ônibus foi gradativamente lotando. Poucos eram os estudantes com cara de assustados que seriam vestibulandos em potencial. Ah! Mas nem adiantavam estas análises todas. Eu mesma era um vestibulando e não aparentava muito não. Além de estar um pouco fora da faixa etária comum, estava com trajes meio fora do contexto para meu próprio pensamento em relação a concursos.
Os minutos avançaram muito mais rapidamente que o ônibus. Demoramos exatos 65, 78 minutos para alcançar o SESI da Parangaba. Como havíamos saído de Maranguape às 07:30h, significava que já eram 08:36h quando percebi isto. - Ah! Hoje está tão congestionado! - Disse uma senhora que aparentava estar uns doze mil séculos dentro da poeira. Eu não confirmei, nem sequer fiz menção de responder nada. Estava sendo tomado por um calor gigantesco. O ônibus ali, parado, somente piorava o clima no seu interior dominado muito mais por crianças do que por adultos.
Quando chegamos na altura do IMPARH tive um vislumbre praticamente fatal do que poderia acontecer. Faltavam apenas 15 minutos para o INÍCIO da prova. Eu estava ainda dentro do ônibus da PENHA, proximo a FAC. Tinha que pensar rápido! O engarrafamento havia tingido de azul a João Pessoa. À frente, não havia movimento de veículos. Tudo parado! Naquele momento percebi que seria impossível chegar a tempo. estava muito longe.
Vou descer e correr. Pensei! E justamente neste momento vi que lá fora diversas pessoas corriam, levando suas garrafinhas d'água da Santa Sofia. Era gente correndo pra chegar ao Salesiano, gente correndo pro outro lado para chegar ao Campus 2 da FAC. E eu sendo besta, parado no ônibus?
Vi que um mototaxista acabara de chegar com uma garota. Ele estava contando o dinheiro do troco e ela percebendo o novo cheiro do cabelo. Prontamente, como poucas vezes acontece na minha vida. ORDENEI a abertura da porta do ônibus e pulei. Olha que não foi força de expressão. Pulei! Atravessei pela frente do ônibus, confiando que não morreria porque o trãnsito estava parado mesmo. Naquela secção nem moto passava. Abordei o mototaxista correndo e perguntei se ele estava livre. - R$ 6,00 para a Luciano Carneiro. - Ele disse. - Nós temos cinco minutos. - Disse empregando o tom mais seguro que eu poderia ter.
Nos nanossegundos que se seguiram até cruzarmos pela Carlos Câmara notei pela primeira vez que estava preocupado com o vestibular. A história da despretensão continuava existindo, mas não era da forma que eu pensava originalmente. Durante alguns segundos, no início da viagem de moto, percebi que eu dava importância ao concurso sim. Noti que eu tenho um sincero interesse em ser aprovado e que isto não possui um carater vaidoso ou boçal. Mesmo sem ter me dedicado aos estudos para tais provas houve um desgaste associado. Desgaste este que se tornou bem explícito nas repreensões que sofro quando algumas pessoas descobrem para qual curso estou tentando vestibular.
A sensação de dor na cabeça por conta do capacete apertado me fez acordar. Estávamos chegando a Rua do Canal. Foi quando um primeiro quase acidente nos atrapalha! Um motoqueiro, carregando botijões de gás se assustou com a presença de um velhusco que empurrava um casco de geladeira lotado de papelões. No reflexo o motoca de frente desvia e cai da moto. O veículo permaneceu de pé por conta de sua ligação ao carrinho dos botijões. Eu e o mototaxista também nos assustamos com o susto que o velhusco teve ao notar o susto que deu no primeiro motorista. O susto que eu tive foi, então, quádruplo. Subimos uma das calçadas, desviando de uma caçamba coletora de lixo e aceleramos já alinhados ao canal, no rumo da Luciano Carneiro. O segundo quase acidente foi muito estranho: uma pata e oito patinhos pararam o trânsito bem na altura da Expedicionários. Os animaizinhos pareciam floquinhos amarelos de tão lindinhos. Carros, caminhões, motos, bicicletas e pedestres, todos rederam Graças à Deus por tamanha manifestação da beleza natural, naquela manhã tão conturbada de vestibular. Minha intenção era tirar uma fina nos animais e seguir viagem, mas o sinal estava fechado.
Lembro agora que foi bem nesta hora que imaginei um cortejo de Circo cruzando nosso caminho, com aquelas animadoras belíssimas que causariam algum transtorno no trânsito, jumentos alados, elefantes se equilibrando em rapaduras e encantadores de tijubinas. Ainda bem que nada disso aconteceu. Quando tornei estávamos estacionando em frente ao CH. Não havia quase ninguém lá fora. Apenas aquelas mães gordas por trás dos volantes e os tradicionais vendedores de água. Com o dinheiro coincidentemente já trocado paguei ao mototaxista. Estava com a adrenalina a mil. Parecido com o dia que tive que mergulhar num rio cheio de cipós.
Comprei água (meio desnecessário). Entrei faltando ainda cinco minutos para soar o sinal.
Notei uma certa expressão de desânimo em alguns candidatos da minha sala quando entrei.

O Peixe Mamífero

A Feira dos Pássaros em Fortaleza, é conhecida por oferecer quaisquer tipos de produtos. No meio daquele monte de gente, todos os domingos, é possível comprar ou vender qualquer coisa. Os exemplos vão de caixas de ferramentas para celulares, até hamsters. De pele de bode à roupa de cardeal e assim vai.
Então lá seria o lugar mais que indicado para eu iniciar a aquisição dos materiais para meu novo hobby, o aquarismo. A regra é não chegar na feira muito cedo. Assim você pode aproveitar as promoções de queima de estoque. Depois de atravessar o “setor” de eletro-eletrônicos (onde pude até ver um televisor National, igual ao que existia em minha casa, ainda no século passado), cheguei ao refúgio dos animais da feira. Sinceramente sentia-me num misto de Jurassic Park, a Ilha do Dr. Monroe e Cocoricó. Os peixes ornamentais são os bichos mais vendidos lá. E existem para todos os gostos. Percorri os corredores apertados procurando um bom aquário, pelo menos que me inspirasse confiança. Encontrei uma barraca muito organizada que vendia tudo para aquarismo... Iniciei minhas pesquisas, conversando com o vendedor. E logo me decidi em levar um PEQUENO aquário para vinte e cinco litros. (Lembrara que ainda voltaria pra Maranguape de ônibus). Quando fui passando noutra barraca um pouco a frente, chamou-me a atenção uma garotinha que se aproximava com seu pai. A pequena devia ter uns dez anos. Não sabia para onde olhar, com tantas atrações. Assim que conseguiu esticar o pescoço por sobre alguns sacos de pedras, numa barraca que vendia Peixes Betta perguntou: - Hei? Eu quero comprar um peixe, um aquário e a comidinha do peixe. Quero um peixe bem bonito, coloridinho, que goste de comer, porque o outro que eu tinha morreu de fome. – O vendedor olhou-a com um ar de admiração e se aproximou da menina. Resolvi parar, fingindo interesse em algum produto ali. – Pai. Aqui tem peixinho. – O pai da menina parecia extremamente cansado. (Já devia ter andado aquela feira inteira. A menina fazia o tipo que a menos de dez minutos, estava querendo levar um puddle pra casa). – Este peixe! – Ele apontou pra um peixe avermelhado dentro de uma garrafa de água mineral. – Ah! Esse aqui é um peixe de briga! – E mal terminou de falar... – Êh! Peixe de briga! – A menina ficou encantada com a informação. – Não, Aninha. Peixe de briga não. Vamos comprar um peixinho mais calminho. Pra ver se você se acalma também. – Tenho certeza que a Aninha nem ouviu. – Pai, compra um aquariozinho pra ele também. Olha! Tem aquele com uns espelhinhos. – Ela já estava do outro lado do pequeno balcão, nas pontas dos pés, esticando os braços para alcançar um objeto todo de vidro. – Ah! Eu vou dar comida todo dia pra ele ficar forte e brigar bem muito. – Nesta hora não resisti e deixei escapar um risinho. O pai da menina olhou pra mim e trasmutei o riso irônico num sorriso simpático e solícito, de certa forma. – “Vamo” Pai. – Forçou o velho a se aproximar um pouco mais. - Hei! Rapaz. Eu quero um peixe, um aquariozinho de espelho e um saquinho de comida. – Logo ela puxou do bolso uma cédula tão dobradinha, que não consegui perceber qual era o valor. O vendedor estava separando o aquário, quando abriu um sorriso. Notei que ele se inspirou... Ora, ele estava ali para vender seu “peixe”. – Pronto! O aquário e o peixe (o coitado ainda estava agora dentro de um saco plástico transparente). – Ele evidentemente fez um gesto bem exagerado quando colocou os “produtos” no balcão. O velho estava tirando a carteira do bolso para o pagamento, quando a menina falou nervosa: - Ele vai morrer de fome! Cadê a comida? “Taqui” o dinheiro. – Estendeu uma cédula de cinco reais, perfeitamente dobradinha. – Ah! Esse peixe é ótimo. Ele não come comida pra peixe não! Ele come isto aqui! – Mostrou um potinho plástico, cheio de um pó branco. Nesta hora fiquei intrigado, vejamos: aquele era evidentemente um peixe. Existe uma enorme variedade de comidas para peixes. Algumas até feitas à base de peixes. Mas isso não é problema. Nós mamíferos nos alimentamos comumente de outros mamíferos. Então o que aquele peixe comeria se não fosse comida pra peixe? – Ele come leite! – O rapaz falou tão baixinho, pertinho da menina, que só percebi o que ele falara porque li seus lábios. – Peraí... Agora era demais! Primeiro o cara diz que o peixe não come comida pra peixes. Sendo que qualquer comida que o peixe comesse seria automaticamente: comida para peixe. Mas que na verdade o peixe "come" leite... Então eu tinha acabado de encontrar um Elo Perdido. Vejamos! Segundo a teoria Evolucionista: Os peixes geram os anfíbios, que geram os répteis, que geram as aves, que por sua vez, geram os mamíferos. Mas naquele momento, segundo o vendedor, estávamos diante de um Peixe-Mamífero. – O quê? – O velho interessou-se pelo assunto. – Que diabo de peixe é esse que come leite? – É... Esta “raça” de peixe só come leite. – Aqui o vendedor olhou para mim, desconfiado. Ele havia percebido que tinha ido longe demais. O pai da menina a qualquer momento iria estourar... Ele já estava pagando vinte reais por um aquário para meio litro de água e um peixe betta ( O que era absurdo). Aqueles eram itens normalmente baratos naquela feira. – Rapaz eu sou pescador! – O velho senhor falou estufando o peito e suspendendo com certo esforço, a barriga proeminente. – Pronto! Agora fedeu! Vou ver uma briga agora. – Você quer dizer que ele come leite além da comida normal dele né? – Por trás da gente passaram alguns meninos correndo em disparada. Algum roubo, pensei. Minutos depois saberia que tinha sido um roubo sim. Estavam levando um aparelho de DVD portátil. – Não senhor. Ele só come leite. Quer dizer, nesta idade ele come leite, mas quando ele é novinho, aí não. Ele mama! – Parênteses: (Também conhecido como “peixe de briga”, esse peixe da família dos Anabantídeos é originário da Tailândia. Seu nome vem de uma tribo de índios, onde os guerreiros eram chamados de “Bettahs”. A alimentação dos Bettas deve ser feita com a comida, em forma de ração, encontrada nas lojas especializadas, com comidas vivas, como as artemias e até mesmo com gema de ovo cozida, mas isso deixa a água extremamente suja, A LITERATURA ESPECIALIZADA NÃO CITA LEITE!). – Rapaz! Que mentira!? Eu sou conhecedor de várias espécies de peixes! – O velho deve ser Biólogo aquático! Pensei. – Sou pescador, meu amigo! Passa logo meu troco e inclui um saquinho de ração. – Ele já estava meio nervoso. – Meu senhor. O senhor já pescou na Tailândia? – O vendedor até usou uma voz grave e pausada, quando perguntou. – Sei nem onde é Tailândia! – Respondeu meio desconfiado, o desconfiado. – Pois é. Este peixe vem da Tailândia. Mas o senhor não sabe que baleia mama? Golfinho também não mama? E não são peixes? – Velho truque do argumento sem futuro, mas dito com segurança. – É mesmo! Eles mamam mesmo. – Nervosismo eu não notava mais, no tom com que o “cliente dos sonhos” para qualquer “vendedor esperto”, falou. – Então é isso. Agora não pode ser leite de marca boa não. Tem que ser aquele tipo que quando bota na água ele faz bolota. – Era serviço completo mesmo. Mas só então percebemos que a Aninha não estava mais por perto. Ela estava em outra banca, encantada com os canários e periquitos australianos. – Hei! Ana!? – O pai da menina esbravejou. Ela chegou eufórica. – Pai, compra um papagiozinho daqueles pra mim? – Tenho certeza que eu, o vendedor e o pai dela pensamos a mesma coisa juntos. – Não, não quero mais o peixe não. Quero o papagaio. É legal porque ele fala! Esse peixe nem fala! – O rapaz já estava recolhendo o aquário e recolocando o peixe num tanquinho. Foi quando o velho disse baixinho: - Não! Eu vou comprar! Vamos levar é o peixe! Vou mostrar pro povo lá de casa. O peixe. Ah! E me dá um potinho do leite do peixe. – Aninha prontamente mudou de idéia. Já estava feliz novamente. Até hoje fico imaginando a meiguice que deve ser ver um peixinho novinho, mamando!

Preciso Acordar!

Após vários anos de treino, alcancei um elevado grau na arte de dormir em ônibus. E por considerar isto uma arte, trato de exercitá-la sempre. Mesmo sob as condições mais adversas e ignóbeis. Como a de viajar nos ônibus das empresas que trafegam entre minha cidade e Fortaleza.

Mas não foi sempre assim. No início de minhas viagens, nas Eras dos 90, ficava o tempo inteiro desperto.

Decifrando as escritas exóticas atrás dos bancos adquiri o sentido da posteridade (entidade tão desprezada no atual contexto informatizado). Observando as caixas de acerolas aprendi o senso do apreender (qualidade desvalorizada no vigente ambiente do descartável). Admirado com a superlotação absorvi o conceito da união (objeto desprezado nestas paragens africanas).
Assim, fui elevando meu sensor sentimental. Polindo meus dotes filosóficos, somando imagens e idéias; ficando de saco cheio de ver as mesmas caras todos os dias. E eram caras feias.
Isso tudo teve seu limite. Logo, tive que criar maneiras de entreter-me durante aqueles transcursos semi-intermináveis.

Historicamente desde o advento do ônibus, a viagem Fortaleza-Maranguape demora uma hora. Mas isso não é uma regra. Alguns intrépidos motoristas arriscam suas vidas, numa demonstração de sangue frio e habilidade, dirigindo veículos sucateados a mais de cem por hora. Isso propicia uma evidente redução no tempo do itinerário. Outros, porém, guiam seus “carros” com a doçura de um Morgan Freeman em Conduzindo Miss Dayse. Confesso que quando isto ocorre nenhum passageiro torna-se disposto a encarnar uma Dayse. Então resolvi ordenar os motoristas dos mais rápidos aos mais lentos. Isso me ocuparia nas viagens, cheias de tomadas de tempo parciais, ajudando-me a definir os melhores horários e “chofers” para que eu próprio perdesse menos tempo nos ônibus.

E assim fiz! Por três meses levantei dados, preenchi planilhas, organizei tabelas, calculei médias e desvio padrão; modas e distribuição normal; criei interseções de dados fantásticas que muitas vezes nem eu sabia interpretar. Mas cheguei a uma conclusão: aquilo tudo não servia pra nada!

Depois da frustração do meu “ranking da velocidade” parti para a literatura. Passei a comprar um cem número de livros e pedir emprestado outros tantos com o intuito de ocupar-me. A leitura seria uma saída duplamente satisfatória. Uma vez distraído, absorto nas idéias de autores diversos não veria o tempo passar e quando menos esperasse lá estava eu chegando ao centro da capital. Não foi assim! Meu subconsciente marcava cada intervalo, cada curva, cada marcha mudada e o ruído de fundo que era alto demais acabavam por me distrair, tirando o mérito da leitura. Eu ficava enjoado e com dor de cabeça, desmotivado para permanecer lendo.
Dias depois estava eu correlacionando a angulação da luz solar através das janelas dos ônibus com a precessão dos equinócios. Avaliando como a resistência do ar se alterava a partir do número de janelas abertas. Verificando o efeito Doppler na Av. Osório de Paiva. Calculando a velocidade de queda dos pingos de chuva medindo a tangente entre tal velocidade e a velocidade do ônibus. Comprovando o poder de meu Anjo da Guarda por me proteger da morte num ônibus em altíssima velocidade.

Quando já aceitava o tédio das viagens houve um sinal de mudança. O livro “The Search for Bridey Murphy” de Morey Bernstein me deu a resposta.

Foram anos de condicionamento auto-hipnótico. Foram meses de buscas numa época em que não existia a Internet como nós a conhecemos. Artigos sobre como hipnotizar galinhas. Teses sobre Mesmerismo, Magnetismo animal e seitas tibetanas. Dedicação e disciplina alimentadas por um objetivo nobre: dormir no ônibus.

As maiores dificuldades residiam no tempo para o efeito. No início das experiências auto-hipnóticas eu demorava muitos minutos até atingir um nível satisfatório de relaxamento. Mas eu precisava encurtar este tempo para pouquíssimos minutos. Treinei. E assim foi. Consegui um sono rápido, com sonho e tudo. Um paradoxo entre estar relaxado e rígido (não pretendia cair no colo de ninguém). Uma proeza dormir em um lugar tão barulhento e desconfortável.

Hoje me sinto bem mais imune ao Forró, aos solavancos, às caixas de acerolas, ao Sol e a chuva; à lotação e aos engarrafamentos. Eu durmo! E sonho com a decência que nos falta. Sonho com um preço justo das passagens. Sonho com o cavalheirismo e o respeito.. A janela não oferece a paisagem bonita. Os passageiros refugiaram-se nos seus fones de ouvido. Temendo o isolamento crescente acabei por me isolar.

Acho que tenho que recondicionar minha mente. Preciso acordar! Faltou verificar como o efeito da alta velocidade altera o desenvolvimento dos fungos na tapioca.

O Gatinho, o cocô e o sentido da vida!

É incrível a capacidade que o Universo tem de todo instante, mandar mensagens para os pobres humanos. Sendo que na grande maioria das vezes, não percebemos tais verdades. Na última semana, após sair do trabalho, embarquei num ônibus que faz um dos itinerários mais lotados da cidade. No ponto em que subo ainda é tranquilo, existindo diversos lugares vazios. Em pouco tempo quase não há espaço algum, são dezenas de pessoas. A grande maioria recém saída de seus trabalhos. Cansadas e com cara de desânimo evidente, amontoam-se em meio a um calor crescente, sob músicas enfadonhas, provenientes do gosto discutível dos motoristas.

Adquiri o costume de dormir, assim posso “encurtar” a viagem. Não é necessário que assista a paisagem, pois já decorei o percurso. E naquele fim de tarde estava dormindo na última cadeira do lado esquerdo do veículo.

Mas como disse anteriormente, o Universo está sempre nos comunicando suas verdades.

À metade do percurso, entramos numa estreita avenida. O engarrafamento naquele horário é inevitável. O ônibus parou. A expressão cansada dos passageiros indicava alto desgaste. Eu mesmo, embora viajando sentado, estava cansado da demora na viagem e aquela parada seria longa.

Olhei para fora do ônibus, projetei minha cabeça pela janela em busca de algum ar e me deparei com uma cena significativa. Um cruzamento próximo exibia um sem número de luzes, faróis, piscas, semáforos. Um turbilhão de sons, buzinas, motores, carros de som, um avião que passou sobre nós... Tudo isso ao mesmo tempo deixava o ambiente externo tão estressante quanto o interno ao ônibus. Mas alheio a tudo isto, passando sobre um pequeno trecho de grama, junto a uma calçada alta de uma loja de luminárias, aproximou-se um gatinho. No limiar entre a fase filhote e a fase adulta, aquele gato chegou sem preocupações. Rondou a grama e ajeitou-se, acertou-se, fixou-se, acocorou-se e iniciou o cocô. Sim, no meio da avenida movimentada, lotada de veículos, luzes e sons. O gato sem cerimônia acocorou-se.

Aquela cena então assumiu um caráter semi-divino. Era uma mensagem cósmica. Um ente taoísta. Uma verdade do Universo ali, diante de todos no ônibus lotado. Olhei para o interior do veículo. Fiquei abismado. Ninguém parecia ter visto o gatinho na calçada. Ninguém parecia estar vendo nada. Os olhares das pessoas eram opacos. Os únicos brilhos ali eram das pasteurizadas luzes e dos reflexos nos rostos suados das pessoas.

Tornei a olhar para o gato. Ele tinha aquele olhar absorto, vago. Poderia jurar que ele olhava para mim. Seu rabo eriçado contrastava com seu semblante impassível. Todo aquele caos era contraponto daquele animal. Mesmo sem saber se ele olhava para mim ou se para um ponto no infinito, entendi, decifrei, deduzi um pensamento, uma comunicação, uma ideia, uma questão: onde está a vida natural do homem?

Sem duvidas todos nós, naquele ônibus, estávamos distantes de nossa vida natural. Qual é o preço da modernidade? Qual o preço para as nossas almas?

O gatinho nem pareceu aliviado, nem ao menos irritado ao final de seu cocozinho na grama. Pareceu apenas “satisfeito”, no sentido de ter cumprido sua necessidade sem rodeios, sem caprichos ou fantasias. Ele saiu dali tão tranquilo quanto chegou. E todos os humanos permaneceram aprisionados naquela grande caixa metálica chamada ônibus. Ninguém viu o gatinho. Ninguém sabia muito bem porque estava dentro daquele ônibus. Ninguém se olha. Ninguém conversa. Abafados pelos sons da música e do trânsito, seguimos o nosso itinerário. Dia após dia, ano após ano. Vida após vida?

Naquele início de noite percebi uma das grandes verdades do Universo, mas ainda restam paradigmas a serem superados. E assim vou seguindo. Certo de que a qualquer momento a nova mesma verdade será dita a todos. Até quando?

sábado, 15 de agosto de 2009

Quando perambulava pelas ruas de Fortaleza, na manhã de 29 de junho de 2009 pensava em mil coisas relacionadas ao relacionamento Pai-Filho. Mas principalmente como os planejamentos não podem ser perfeitos. Sabia-se que o Arthur estava prestes a chegar, mas induzidos pela esperança de que a data "nunca" chegasse, fomos deixando alguns sinais passando "despercebidos". As contrações de Braxton Hicks estavam lá, mas já haviam se modificados para contrações sintoma de início de trabalho de parto. Ainda em 28 de junho tudo parecia suficientemente normal para que pudéssemos esperar o dia 8 de julho (data da cesareana). Não foi assim.
Na manhã de 29 eu estava seguindo pela Av. Santos Dumont em busca de roupas de bebê. Nós as possuíamos mas estavam longe da Gastroclínica. Comprei a roupinha mais simples que encontrei.

Chuva de meteoros.


Nesta semana um evento astronômico, daqueles que acontecem todos os anos, mas que a imprensa reveste de novidades, ocorreu. A Chuva de meteoros com radiante em Perseu, aconteceu. Na verdade, na verdade, os jornais, blogs, amigos, ninguém deu muita importância. Mas que relevãncia realmente a chuva de meteoros teria? Eu, de minha parte, estava acordado na hora mais propícia: 4h do dia 12 de agosto. O que vi? Três parcos riscos o céu nublado aqui de Maranguape. Fiquei acordado por 20 min, olhando para o lado menos propício de se avistar alguma coisa interessante. E fui dormir.