Muito curiosos foram alguns dos acontecimentos que ocorreram na noite de hoje. E estes eventos somente me foram propiciados por conta de uma segunda fase de vestibular bem resolvida.
Passaram-se oito anos desde a última vez que, saindo do bloco da Engenharia Química, abandonava minha vida de aluno universitário. Mesmo após tanto tempo, lembro do percurso que fiz desde o Campus do Pici até o terminal do Siqueira. Percurso tal onde fui pensando exaustivamente sobre o que o futuro me reservaria. O único vislumbre intuitivo que tive foi a dor nos pés que poderia eu sentir ao final daquela empreitada.
Ao retornar ao térreo da biblioteca central, no mesmo Campus do Pici, senti-me um calouro. Mesmo tendo a consciência de que não havia qualquer residual da primeira matrícula que realizei na instituição ainda no ano de 1998.
Assim, ao me matricular, era ao mesmo tempo um novato e um veterano.
Como estava dizendo, a noite de hoje reservou a mim impressões novas e saudosistas.
Provavelmente, era a primeira vez em que eu perambulava de forma tão fluida pelos jardins do castelo dos Gentil, conhecido como Reitoria. E esta fluidez era fruto da admiração e de um contentamento latente que carrego desde a aprovação no vestibular.
Tínhamos um evento do curso de Filosofia no auditório Castelo Branco e cheguei um pouco depois do início.
O clima era de excessiva retórica, bem apropriada, na verdade, para o tipo de discussão que seguia. Debate que consumiu mais de duas horas.
Confesso que a cada dia que passa, estou aceitando bem mais as específicas de Português e História para a segunda fase do vestibular para Filosofia. Isso porque tivemos um desfile de português em sotaque alemão e história da Europa, além da própria história do pensamento humano.
Foram minutos divagando entre um ralo entendimento e um entendimento nenhum do que ocorria. Mas entendo muito bem a postura da Coordenação do Curso, quando pôs os calouros a participaram de evento tão rebuscado em pensamentos abstratos e interseções metafísicas. Queriam eles que nós, pobres mortais, ainda envolvidos e embalados pelo “Rebolation”, pudéssemos vislumbrar que existem esferas de entendimento bem mais elevadas e círculos de ciência bem mais sutis e etéreas do que o que pudemos ver um dia na série do Beakman.
Ao terminar o evento, tínhamos salgadinhos nos esperando. Quer dizer, esperando aos outros. Alguns com sutilezas que mereciam teses filosóficas, avançaram sem dó sobre as porções carboidráticas dispostas de maneira tão maneirística, sobre duas mesas que se assentavam à entrada do auditório.
Eu, com minha usual cara de chibata, fiquei ao largo. Como que esperando que alguém viesse me oferecer um quitute, mesmo sabendo que seria impossível que tal coisa acontecesse. Isto por vários motivos: não era professor visitante, não era alemão, estava muito absorto à arquitetura do prédio da reitoria.
Quando iniciei um breve passeio pelos jardins mangueirosos notei que as imagens oscilavam meio magicamente. Como se na verdade estivesse a olhar um reflexo em águas viscosas e que lentamente fossem levadas à dança por um vento frio que escoa de uma montanha nevada próxima.
Estava tão maravilhado com aquela imagem de sonho que não percebi que aquelas ondulações foram aumentando e deslocando meu próprio equilíbrio. De súbito, acordei daquela espécie de transe e percebi exatamente o que gerara o efeito-sonho que se sucedeu. Era fome!
Olhei pra trás e vi que o povo todo se aglomerava junto aos últimos salgadinhos, quem sabe. Sai dali o mais rápido que pude. Fui em busca de milho cozido pelas calçadas do Shopping Benfica.
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