segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Manhã do Vestibular

Eu, desde o início, tinha dito a quem quisesse ouvir: - Não estou preocupado com as provas do vestibular! Isto porque pensava estar tentando o concurso de forma despretenciosa, talvez displicente. Fui para a primeira fase traquilo. Recebi o resultado, também tranquilo. Aguardei pacientemente a segunda fase. Ontem (dia 13) fui para a prova no centro de Humanidades da UECE. Cheguei ao local faltando ainda uma hora. Fiquei perambulando por lá, super tranquilo.
Hoje foi a prova de Português e História. Sai de casa despreocupado, mesmo sabendo que iria enfrentar específicas tão "humanas" pela primeira vez. Aliás, é interessante esta história de "humanas". Mas tudo bem, deixemos isso pra depois.
Na rodoviária em Maranguape não notei o movimento dos dias anteriores de prova. Isto porque provavelmente todos já tinham ido. Era um pouco tarde já, mais de 07:00h. Para uma prova que ia começar as 09:00h, no CH da UECE, eu estava com folga no tempo.
No interior do ônibus, depois que saímos, comecei a perceber que o motorista devia estar em um dia muito tranquilo. O tempo que ele levou para percorrer o espaço entre a Rodoviária e a Praça da Prefeitura foi hediondo. Neste momento iniciei meus pensamentos elevados em busca de paz extra. Não que eu precisasse de paz para a prova, não. Eu precisava tentar me manter afastado dos assuntos que se iniciavam no banco a minha frente (vestibular) e da percepção da baixíssima velocidade com que o ônibus contornou a curva da Outra Banda.
Acho que um dos fatores que contribuíam para aquela sensação de desconforto que eu estava experimentando era a inexistência de relógio acessível para que pudesse acompanhar o avançar da hora e poder me programar mentalmente para um esquema de locomoção entre a Reitoria e o CH.
Curiosamente o ônibus foi gradativamente lotando. Poucos eram os estudantes com cara de assustados que seriam vestibulandos em potencial. Ah! Mas nem adiantavam estas análises todas. Eu mesma era um vestibulando e não aparentava muito não. Além de estar um pouco fora da faixa etária comum, estava com trajes meio fora do contexto para meu próprio pensamento em relação a concursos.
Os minutos avançaram muito mais rapidamente que o ônibus. Demoramos exatos 65, 78 minutos para alcançar o SESI da Parangaba. Como havíamos saído de Maranguape às 07:30h, significava que já eram 08:36h quando percebi isto. - Ah! Hoje está tão congestionado! - Disse uma senhora que aparentava estar uns doze mil séculos dentro da poeira. Eu não confirmei, nem sequer fiz menção de responder nada. Estava sendo tomado por um calor gigantesco. O ônibus ali, parado, somente piorava o clima no seu interior dominado muito mais por crianças do que por adultos.
Quando chegamos na altura do IMPARH tive um vislumbre praticamente fatal do que poderia acontecer. Faltavam apenas 15 minutos para o INÍCIO da prova. Eu estava ainda dentro do ônibus da PENHA, proximo a FAC. Tinha que pensar rápido! O engarrafamento havia tingido de azul a João Pessoa. À frente, não havia movimento de veículos. Tudo parado! Naquele momento percebi que seria impossível chegar a tempo. estava muito longe.
Vou descer e correr. Pensei! E justamente neste momento vi que lá fora diversas pessoas corriam, levando suas garrafinhas d'água da Santa Sofia. Era gente correndo pra chegar ao Salesiano, gente correndo pro outro lado para chegar ao Campus 2 da FAC. E eu sendo besta, parado no ônibus?
Vi que um mototaxista acabara de chegar com uma garota. Ele estava contando o dinheiro do troco e ela percebendo o novo cheiro do cabelo. Prontamente, como poucas vezes acontece na minha vida. ORDENEI a abertura da porta do ônibus e pulei. Olha que não foi força de expressão. Pulei! Atravessei pela frente do ônibus, confiando que não morreria porque o trãnsito estava parado mesmo. Naquela secção nem moto passava. Abordei o mototaxista correndo e perguntei se ele estava livre. - R$ 6,00 para a Luciano Carneiro. - Ele disse. - Nós temos cinco minutos. - Disse empregando o tom mais seguro que eu poderia ter.
Nos nanossegundos que se seguiram até cruzarmos pela Carlos Câmara notei pela primeira vez que estava preocupado com o vestibular. A história da despretensão continuava existindo, mas não era da forma que eu pensava originalmente. Durante alguns segundos, no início da viagem de moto, percebi que eu dava importância ao concurso sim. Noti que eu tenho um sincero interesse em ser aprovado e que isto não possui um carater vaidoso ou boçal. Mesmo sem ter me dedicado aos estudos para tais provas houve um desgaste associado. Desgaste este que se tornou bem explícito nas repreensões que sofro quando algumas pessoas descobrem para qual curso estou tentando vestibular.
A sensação de dor na cabeça por conta do capacete apertado me fez acordar. Estávamos chegando a Rua do Canal. Foi quando um primeiro quase acidente nos atrapalha! Um motoqueiro, carregando botijões de gás se assustou com a presença de um velhusco que empurrava um casco de geladeira lotado de papelões. No reflexo o motoca de frente desvia e cai da moto. O veículo permaneceu de pé por conta de sua ligação ao carrinho dos botijões. Eu e o mototaxista também nos assustamos com o susto que o velhusco teve ao notar o susto que deu no primeiro motorista. O susto que eu tive foi, então, quádruplo. Subimos uma das calçadas, desviando de uma caçamba coletora de lixo e aceleramos já alinhados ao canal, no rumo da Luciano Carneiro. O segundo quase acidente foi muito estranho: uma pata e oito patinhos pararam o trânsito bem na altura da Expedicionários. Os animaizinhos pareciam floquinhos amarelos de tão lindinhos. Carros, caminhões, motos, bicicletas e pedestres, todos rederam Graças à Deus por tamanha manifestação da beleza natural, naquela manhã tão conturbada de vestibular. Minha intenção era tirar uma fina nos animais e seguir viagem, mas o sinal estava fechado.
Lembro agora que foi bem nesta hora que imaginei um cortejo de Circo cruzando nosso caminho, com aquelas animadoras belíssimas que causariam algum transtorno no trânsito, jumentos alados, elefantes se equilibrando em rapaduras e encantadores de tijubinas. Ainda bem que nada disso aconteceu. Quando tornei estávamos estacionando em frente ao CH. Não havia quase ninguém lá fora. Apenas aquelas mães gordas por trás dos volantes e os tradicionais vendedores de água. Com o dinheiro coincidentemente já trocado paguei ao mototaxista. Estava com a adrenalina a mil. Parecido com o dia que tive que mergulhar num rio cheio de cipós.
Comprei água (meio desnecessário). Entrei faltando ainda cinco minutos para soar o sinal.
Notei uma certa expressão de desânimo em alguns candidatos da minha sala quando entrei.

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